Cap. 7 — Os Dois Primeiros Degraus: Duas Horas sem Fumar e a Cura da Dudinha — Parte 2 de 2

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            Eu nunca movi sequer uma palha para afastar Michele da sua crença, e ela, tampouco, jamais tentou me dissuadir das minhas antigas convicções antirreligiosas, porque sabia muito bem o quanto elas, pelo menos até ali, eram inabaláveis, amparadas que estavam em conhecimento científico, em lógica filosófica e em História. Mas também, ainda que eu andasse de braços dados com a Ciência, nunca concordei e permaneço discordando da tese simiesca do Darwin, segundo a qual descendemos de macacos. Por outro lado, ainda que eu não negasse a passagem de Jesus pela Terra, distante estava de acreditar que certas passagens da Bíblia podiam ser verdade, como, por exemplo, aquela do peixe glutão que engoliu um Jonas malcriado, para, mais adiante, vomitá-lo numa praia; bem como em outros relatos de igual inverossimilhança encontradas na Bíblia. Minha posição, hoje, é bem diferente daquela de descrença, porque, de um modo ou de outro, vou recebendo revelações que pulverizam completamente as minhas dúvidas. Esta do Jonas engolido por um peixe, que eu achava o cúmulo do exagero, é um bom exemplo, vez que, recentemente, eu soube de um caso acontecido com um marinheiro inglês nas ilhas Malvinas, que, tendo sido engolido por um cachalote, um peixe que pode chegar a até 25 metros de comprimento, foi retirado vivo de dentro do cetáceo depois de ter ficado dentro dele por 15 horas. É conhecido também o caso de outro marinheiro inglês, que caiu no canal de Calais, e foi tragado por um imenso tubarão da espécie "Rhincodon Typus", mais conhecida como "Tubarão Baleia". Este ficou dentro do Rhincodon durante 48 horas, e algumas horas após ser resgatado, estava em bom estado, e foi exibido ao público no Museu de Londres. O fato é narrado no livro "The Harmony Science and Scripture", de Harry Rimmer, onde o autor conheceu pessoalmente o personagem da história. Se o leitor quiser saber detalhes desses casos, basta entrar na Internet, abrir o navegador Chrome e digitar na Barra de Endereço do navegador: “marinheiro engolido cachalote”
            Além do culto dominical, passamos a freqüentar também, às terças-feiras, as reuniões do grupo familiar que acontecem na residência de um dos casais da igreja, conhecidos por Líderes de Grupo. O grupo familiar é como se fosse uma representação menor da igreja, com cada grupo contendo um número variável de crentes e seus respectivos familiares, sendo que, para melhor identificação, cada grupo adota um nome de inspiração bíblica. Desse modo, os membros da igreja podem se reunir na casa de um daqueles casais de líderes, a que estiver localizada no seu bairro ou ponto mais próximo da própria moradia, ocasião em que se celebra um mini culto de adoração, leitura e estudos bíblicos, pregação e orações em favor dos que estiverem sofrendo de alguma problema seja de ordem espiritual, física ou mesmo material. Começamos então a frequentar as reuniões de um desses grupos, e, nas reuniões à qual comparecíamos semanalmente, acontecia algo extraordinário comigo e que considero como o primeiro degrau daquela seqüência de passos que me levaram à Verdade: eu, que não passava mais de meia-hora sem a fumaça de um cigarro, permanecia ali na reunião, que dura cerca de 2 horas, sem sentir a menor vontade de fumar, e isto, sem sofrimento algum, até porque eu nem me lembrava do cigarro.
            Mais adiante, porque o grupo, em função de novas adesões, havia ficado num tamanho que ultrapassava os limites da boa acomodação, foi o mesmo dividido em duas partes, ocasião em que fomos transferidos para um novo grupo que estava sendo formado, e foi neste que aconteceu o meu segundo degrau em direção a Jesus:
            Nas reuniões do grupo familiar, os filhos dos membros também compareciam e, dentre os pequenos, eu observava uma menina que, aos meus olhos, devia ter seis anos de idade. Ela não brincava como as outras. Ficava, maioria das vezes, recolhida a um canto, semblante tristonho, descorada e, porque pouco comia por causa da inapetência, muito magra... Parecia sofrer de alguma enfermidade, hipótese que acabou se confirmando quando perguntei à sua mãe o porquê daquela postura de isolamento e estado de prostração. A menina sofria de uma enfermidade chamada de Doença Granulomatosa Crônica, que expõe os portadores a infecções por bactérias e fungos oportunistas, desses comuns aos quais estamos sempre em contato, mas que, por conta da proteção natural imunológica, não progridem quando invadem o nosso organismo. Essa proteção está presente no sangue sadio, mas não no sangue do portador dessa doença. Por isso, a menina, conhecida mais pelo carinhoso apelido de  Dudinha, por não contar com um componente importante de defesa no sangue, o peróxido de hidrogênio e outros oxidantes necessários para eliminar certos microrganismos, estava sempre doente, acometida por alguma infecção e se empanturrando de antibióticos, porque não havia outro caminho de tratamento convencional. Para a sua cura, só havia uma solução no universo da Medicina: o transplante de medula. No universo espiritual, só o poder de Deus poderia acabar com aquele mal; e por conta da fé nEle, é que os membros viviam em orações, pedindo que, nas campanhas que faziam em praças públicas, aparecesse um doador de medula compatível com o da Dudinha. E eu ficava ali, mortificado por assistir, em todas as reuniões, àquele drama vivido pela pequena e por seus familiares.
Eis que, numa dessas reuniões, a mãe da Dudinha, anunciou que, naquela semana, estava levando a menina a uma consulta no Rio de Janeiro, que já estava programada para acompanhamento da enfermidade. E foi ali que me veio à mente uma disposição de fazer algo que, por temer as consequências, acabei não fazendo. Deu-me uma vontade quase irresistível de ajoelhar-me ali, no meio da reunião, trazer a pequena Dudinha para perto de mim e, abraçado a ela, elevar os meus olhos para o alto em direção a Deus e dizer em voz alta:

“Pai, eu não tenho religião, eu não faço obrigação alguma em reverência a Ti, e a maioria dos seus mandamentos eu ignoro; mas eu sei que Tu existes, que és o Criador de tudo e que és Pai de todos nós, e tanto sei, que busco um sinal Teu há mais de 40 anos. Pai, essa oportunidade de me mostrares um sinal temos agora nessa criança tão doente. Cura essa criança, Pai, eu te peço, porque sei que Tu podes; e peço por ela e por sua família, e não por mim, porque não mereço bem algum de Ti. Cura, Pai, porque, curando-a, estarás também curando-me dessa longa busca por um sinal teu”.

Mas essa disposição ficou apenas no meu coração e nas lágrimas que, a custo, consegui conter. É que fiquei preocupado com o que considerei como possível consequência daquele procedimento que ali cogitei de levar adiante. Todos sabiam que eu não era ainda convertido à fé evangélica, que eu comparecia ao grupo apenas para transportar a esposa, e que lá permanecia simplesmente porque, residindo o casal anfitrião numa ampla e confortável moradia, mas, a grosso modo dizendo, dentro do mato, não havia, nas redondezas, um barzinho, sequer uma tendinha, onde eu, bebericando e fumando, pudesse fazer hora enquanto transcorria o evento religioso. Ora! Em tal condição, que faculdade ou direito teria eu para importunar Deus, pedindo pela Sua intervenção curadora, ainda que o meu pedido estivesse embasado na mais pura sinceridade? Os crentes que ali estavam, cumprindo com os seus deveres e, ainda que hipoteticamente, em harmonia com os mandamentos divinos, esses, sim, é que teriam o direito de se dirigirem a Deus. Fiquei imaginando o anfitrião passando-me uma reprimenda diante de todos, por causa da minha jactância de achar que eu merecia, mais que os outros, ser ouvido por Deus. Hoje, sei que o que eu cogitava de acontecer da parte do irmão não passava de um consumado absurdo na minha cabeça; mas, naquela época, ignorante de quase tudo relacionado com a fé evangélica, cheguei mesmo a imaginar o irmão anfitrião, depois da minha oração, se ela tivesse acontecido, aconselhando-me a “tomar um ar fresco no quintal” até o término do culto. A providência então adotada por sugestão de um dos crentes foi a de todos acertarem os seus aparelhos celulares para despertar diariamente às 13 horas, momento em que todos orariam, estivessem onde estivessem, em favor de Dudinha, para que encontrássemos logo um doador de medula compatível com a da menina.
Na reunião seguinte, a mãe de Dudinha vem com ela e os demais irmãos ao culto do grupo e anuncia o resultado dos exames feitos no Rio de Janeiro. Os exames indicavam que Dudinha estava curada daquela enfermidade, sem necessidade alguma de transplante de medula e sem os médicos entenderem como é que a cura completa pudera acontecer. Até mesmo a deterioração óssea que, por efeito da doença, vinha atacando a extremidade do seu fêmur, nem essa existia mais. O osso estava perfeito, tendo voltado à sua estrutura normal. Um milagre completo aconteceu.
           Permanecer por mais de 2 horas, sem sentir vontade alguma de fumar enquanto estava participando de reunião do grupo familiar; e a cura de Dudinha foram então, respectivamente, os degraus primeiro e segundo da minha caminhada rumo a Jesus.
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