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“Não se pode chegar à alvorada a não ser pelo caminho da
noite”.
Khalil Gibran (autor da obra ‘”Jesus, O Filho do Homem”).
Anos depois do episódio acontecido
com o Esp, eu, que já estava então casado, permanecia na minha busca por
aquelas respostas. As pessoas nasciam, cresciam, construíam, desenvolviam-se
materialmente... e morriam, e eu permanecia irredutível na minha postura de não
aceitar isso como coisa natural. Para mim, era coisa completamente sem sentido.
Viver era, então, visto sob o ângulo do material e, segundo minhas conclusões, era
o mesmo que erigir uma casa de moradia em terreno alheio. Mesmo sabendo que o
real proprietário — a morte — mais cedo ou mais tarde, aparecerá para tomar
posse de todas as benfeitorias construídas na sua terra, as pessoas seguiam,
como ainda seguem, construindo coisas, convencidos de que reside na matéria a
felicidade, única razão do viver. O
lógico seria o desapego às coisas materiais; construindo, sim, mas apenas para
o atendimento às necessidades básicas de bem-estar, o que, todavia, não é o que
acontece, posto que quanto mais constroem ou acumulam bens, mais se esforçam nessas
mesmas finalidades para obterem mais e mais. Cada bem adquirido ou cada milhar
de dinheiro acumulado dá a essa gente uma satisfação que ela confunde com
felicidade. Por ser apenas uma satisfação, essa falsa felicidade logo se
dissipa, e lá vai o infeliz insatisfeito em busca de novas satisfações.
O objetivo então dessa faina infinita de obtenção
de coisas materiais, longe de atender apenas àquelas necessidades de relativo
conforto, atende também a um certo desejo de ostentação, como se essa exibição
de poder aquisitivo pudesse lhes trazer algum benefício compensador. O que
ganham com isso? Além do conforto físico, que nada tem a ver com o conforto
mental ou espiritual, ganham certa deferência da parte daqueles que dão ao
mundo material a mesma importância; mas ganham também ansiedade e temor ante a
possibilidade de virem a sofrer perda desses bens, muita preocupação e muita
inveja. Considerando o tempo, as preocupações e os recursos financeiros
consumidos nessa luta inglória de construir tanto para ganhar nada, posto que,
a qualquer momento, perderá tudo, pode-se dizer que esse objetivo perseguido
por tantos, na sanha de acumular bens para obter, além daquela satisfação, respeito e consideração por conta do que têm
(ou aparentam ter), e não pelo o que são, constitui um consumado contra-senso,
uma espécie de estupidez coletiva. Se o que consumiram para obter aqueles bens
fosse empregado na busca de respostas a essa rotina do nascer, crescer e
morrer, certamente ganhariam muito mais em termos, não de mera satisfação
material, que logo acaba, mas de realização pessoal interior e de muita paz.
Considerando que quem está em paz, na paz dessa realização interior, não sofre
das mazelas que advêm daquela luta insensata pela acumulação de bens
(depressão, inveja, preocupação, fobias, etc.), o ganho é, certamente e
infinitamente, maior. Se os abastados percebessem que a quantidade de suicídios
é muito maior entre os ricos do que entre os pobres, certamente traçariam um
novo rumo em suas vidas sem obrigatoriamente terem que se desfazer de seus
bens. Mas a cegueira por causa do brilho do ouro é tanta, que nem isto
percebem, e, nessa ânsia de encontrar algo que preencha aquele vazio que têm
dentro de si, acabam buscando preenchimento nas drogas, que também não os leva
a lugar algum de plena satisfação. Têm apenas alguns minutos de enlevo, e
quanto mais usam, mais querem, sem, no entanto, obterem aquele bem-estar
perene; até o momento em que, como uma mariposa que volteia em torno de uma
lâmpada acesa, chocando-se contra a mesma, encontram a morte numa overdose ou numa
cirrose ou pacreatite, senão a demência por conta do alcoolismo.
Voltando então àquele tempo em que eu
insistia em buscar respostas, eu, embora não fosse lá tão apegado ao mundo
material, vivendo mergulhado em posturas filosóficas relacionadas com a
existência humana, ainda pensava mais em ter do que ser. E foi assim que, certo
dia, deparei com um anúncio num dos jornais de grande circulação. Não me lembro
mais do que ali estava escrito, mas o que lá li atraiu-me. Recortei então o
anúncio, preenchi o pequeno formulário com os dados pessoais que eram
solicitados, envelopei e enviei pelo Correio ao endereço da entidade chamada
Rosacruz (AMORC). Dias depois, recebi outro formulário onde eu devia escrever
de próprio punho sobre os motivos que me levavam a querer ingressar naquela
entidade. Enfim, depois de percorrer os rituais burocráticos exigidos, recebi a
minha credencial de neófito, espécie de iniciante nos conhecimentos da entidade,
e passei a receber, periodicamente, apostilas de estudo, pagando uma
mensalidade de valor módico.
Passado alguns meses, já freqüentando, em
bairro próximo ao da minha moradia, uma espécie de templo da entidade, que a
mesma chama de capítulo, alguns aspecto chamaram a minha atenção. Ei-los:
— A entidade cultua a astrologia,
pseudo-ciência com a qual eu tivera anterior contato, mas pela qual eu, naquela
ocasião, não sentia mais atração alguma, até porque seus princípios carecem de
fundamentação científica .
— Nenhum progresso eu havia obtido nem nas
leituras das apostilas, tampouco nos exercícios.
— Há uma espécie de referência respeitosa,
quase uma reverência aos faraós e às tradições do Egito antigo.
Nesse ponto,
comecei a me sentir desconfortável e algo ridículo, consumindo meu tempo com
coisa que tinha muito mais mistérios e absurdos que revelações. E, depois, o
que eu poderia aprender com uma comunidade que reverenciava uma cultura, a do
antigo Egito, cujos “semideuses” faraós, de tão apegados que eram ao mundo
material, exigiam que, quando morressem, fossem embalsamados e guardados em
sarcófagos encerrados dentro de pirâmides? Adotar essa filosofia seria o mesmo
que retroceder e até mesmo alterar completamente o pouco que eu havia aprendido
nas minhas buscas: o de que a verdade, melhor dizendo, as respostas que eu
buscava só podiam ser encontrada fora do mundo material.
Foi curta, portanto,
a minha experiência com o rosacrucianismo, e o desafio de buscar satisfação às
minhas dúvidas permanecia em meu espírito. |
Cap. 5 — ROSACRUCIANISMO
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