Cap. 1: Deus Existe? — Parte 3 de 4

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Prosseguindo, foi ali, ao final da reunião em que questionei Tomé sobre certas passagens bíblicas que me pareciam absurdas e até mesmo ilógicas, bem parecidas com aquelas questões levantadas pelos ateus, foi que ele me respondeu:
— Anselmo, sendo você, a sua mente, o seu raciocínio, a sua lógica, por natural extensão de uma origem, uma criação de Deus, como pode pretender que caiba, dentro dos limites da sua inteligência, da sua lógica, algo infinitamente maior que é a mente de Quem o criou, ou seja, a mente e a lógica de Deus?
O que o Tomé estava me dizendo, iluminando o meu juízo e pulverizando uma das minhas muitas dúvidas, era simplesmente isto: por mais que eu me debatesse para entender a lógica de Deus, eu jamais conseguiria entendê-la, porque é impossível fazer algo maior, que é a mente de Deus, caber dentro de algo menor, que é a minha mente. A mente de Deus, sendo maior que a minha, vez que a mente que cria será sempre maior que a mente criada, jamais poderia ser alcançada pelo meu entendimento, limitado que está pelos cinco sentidos, pelas ciências e filosofias criadas pelos homens, ou, melhor dizendo, pelas suas mentes tão limitadas.
É preciso parar aqui com a leitura e meditar de forma mais profunda sobre o que está escrito no parágrafo acima: o que Tomé disse resume-se numa variante lógica da Lei da Impenetrabilidade determinada na Física, de modo que, se “dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço no mesmo instante”, também não pode, por seqüência lógica, mesmo fugindo do universo material da Física, uma grandeza maior caber dentro de uma menor. Eis aí Física e a Lógica, ciências reconhecidas pelos ateus, mostrando que é impossível questionar a existência de Deus, amparando-se apenas no limitado universo do entendimento humano.
Mas podemos melhorar isto com ajuda da Informática, mais precisamente na forma de uma analogia com o campo da programação. Vejamos:
O programador (Deus) cria um programa, que podemos chamar de “conduta.exe”, o qual é inserido (ou carregado, como dizem os programadores) no cérebro (disco rígido ou HD) do homem, onde, sabemos, fica a mente humana (o Windows), que é capaz de ler e entender o programa conduta.exe, de modo que, para cada estímulo que a mente receber, haverá uma resposta. Assim, se falta água no corpo, este envia um cutucada à mente, e esta, cumprindo o que o programa determina, faz surgir a vontade de beber água. Da mesma forma, outras reações (fome, frio, tristeza, alegria, etc.) vão acontecendo na mente, à medida que esta é estimulada por outros fatores.
Junto com aquele programa, Deus, o programador, carregou também, no cérebro do homem, um outro, chamado “livre_arbítrio.exe”, que dá a cada indivíduo a capacidade de reagir segundo a sua (do homem)  vontade. Essa providência divina de criar o “livre_arbítrio.exe” livra o homem da condição de ser apenas um robô. Por aí, enquanto alguns se comportam de uma maneira diante de um acontecimento, outros se comportam de modo diferente diante da mesma ocorrência. Para resumir, podemos dizer que, quando o livre_arbítrio.exe entra em ação, a reação de cada um depende de vários fatores, tais como formação familiar, cultura, idade, influência de terceiros, etc. Estes elementos formarão a vontade no indivíduo de fazer “assim ou assado”, ou não fazer.
De repente, o indivíduo depara-se com a questão da existência de Deus e passa a fazer perguntas a si mesmo. Vamos repetir aquelas mesmas declinadas antes pelo ateu:

— Deus quer evitar o Mal, mas não pode fazê-lo. Então ele não é onipotente.
— Ele é capaz de evitar o Mal, mas não quer fazê-lo. Então, ele é malvado.
— Deus pode e quer evitar o Mal. Então, por que permite a maldade?
— Deus não pode e não quer evitar o Mal. Então, por que chamá-lo de Deus?


Observe o que pretende aquele que faz estas perguntas: ELE QUER ENTENDER A MENTE DAQUELE QUE CRIOU A SUA (da criatura) PRÓPRIA MENTE. É o ente programado ou fruto de um programa que, por ação do livre_arbítrio.exe, quer entender a mente do programador. Uma vez que as suas decisões ou conclusões amparam-se somente nos elementos do seu limitado mundo, as suas conclusões, que são essas vistas acima, entram em choque entre si mesmas, de modo que tudo acaba no que os programadores chamam de looping infinito, ou seja, uma sequencia de procedimentos que ficam se repetindo eternamente, sendo que do seguinte modo: o ente programado sabe que alguém o criou, quer saber quem é esse criador, mas, vez que a sua mente não consegue alcançar a lógica dessa mente superior, ele acaba buscando, dentro da sua limitação, a resposta, e o que encontra é a contradição de si mesmo: eu existo e, se existo, é porque alguém me inventou; mas, como não sei quem é o inventor, concluo que ele não existe. Todavia, eu existo e, se existo, é porque alguém me inventou, mas, como não sei quem é esse alguém inventor, eu não deveria existir; mas eu existo e... por aí vai girando sobre si mesmo infinitamente, formando o que os programadores de Informática chamam de “looping”.  Quem sabe Informática um pouco além do nível mediano percebe logo que se trata de uma pretensão absurda o ser criado querer entender a mente do seu criador, porque um robô, por mais aperfeiçoado que seja, jamais poderá alcançar a mecânica de pensamento, a lógica... enfim, a mente do seu criador, ainda que este criador dê ao robô o poder de analisar aspectos e decidir por si somente, isto é, seja dotado do livre arbítrio. 

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